Domingo. Dia da macarronada da nona. A mesma família, os mesmos assuntos, as mesmas porpetas e guaranás.
Mas hoje foi diferente. Abracei a Dona Gilda, segurei- a pelas mãos, conversei fitando-a nos olhos, como faço. Mas hoje foi diferente.
Tive o assopro do quão raro aquela cena se repetiria. Lembrei que a única certeza que a vida nos dá é o fim dela. E só. Sinto que o sopro naquela velhinha forte, palmeirense roxa, teimosa, pode apagar.
Ela me fez, mais uma vez, constatar o meu excesso de humano. Sou materialista. Preciso da presença, do toque, do cheiro, das cores, dos olhos para sentir a vida pulsar.
Te quero egoísta e por perto. Os gestos cotidianos de carinho, tornaram-se, naquele ínfimo segundo, despedida. Minhas mãos e lábios tocavam ali uma história de 89 anos, da qual faço parte a 22, somente.
Sou um terço daquela mulher. Daquela vida. E mesmo assim, ela faz com que a minha pareça ser razão da dela. Faz com que a existência seja algo divino. Não importando qual.
“- Não quero morrer, já falei pra Deus. Vai que essa história que do lado de lá a gente se encontra é conversa fiada. Tenho mais que querer a vida, porque é ela que me garante estar aqui com vocês” ( Dona Gilda – 29/08/04)
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