terça-feira, 17 de março de 2009

Naufrágio

Outra vez a angústia. O abismo diante dos olhos e pior, a um passo da queda. Se essa ainda fosse rápida e definitiva, mas não, consome cada instante dos segundos, então, eternos. E lá me vejo, caindo, sem ter coragem do adeus. Um beijo...e desligo.

Contrario Galileu, e afirmo: o mundo das sensações é quadrado. Termina num abismo sem fim. Por isso os homens o temem tanto e ancoram suas caravelas. O meu barco vai à deriva. Cruza com inúmeros portos, mas nenhum me prende o bastante. Chego até o fim do horizonte e me deparo com o nada. Com o próximo passo: o fim.

Os caminhos são curtos e logo alcanço a beira do abismo. Toda viagem é assim. Rápido estou no adeus; que, ironicamente, nunca é dito.

Caminhos curtos e intensos. Maré adequada. Nada de temporais. Vento sul. O início da viagem é sempre encantador, diria assim, inspirador. O fato é que nas minhas navegações não existe o meio. Não existe o cotidiano, a rotina. Não há marinheiro que sobreviva sem a certeza das ondas.


Quero sim, a surpresa do vento leste. Quero sim, a paixão dos piratas. Quero sim, os lemes quebrados e as rotas mudadas. Mas hoje, mais do que nunca, quero tripulação a bordo para me acompanhar. Quero rotina, quero pesca ao meio dia. Quero nós a serem dados no alvorecer e entardecer. Quero reclamar da rotina e da solidão, mas cansei do espelho e dos fantasmas a me ouvir. Quero domingos entediantes.Quero pôr do sol de mãos dadas. Quero luar no ombro amado.

O fim é certo, eu sei. Quem não sabe? Só preciso de uma âncora. Por uns instantes, de um porto seguro. Terra firme a me suportar. Procuro no mapa, tal lugar. Traço rotas e desvios. Não procuro tesouros, índios, cartas à Imperador, posses e triunfos. Quero, emprestado de Cabral, somente a frase: “terra à vista”. E me dou por conquistada.

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